domingo, 7 de novembro de 2010

Você Pode me Ouvir, Doutor?



A conversa com o paciente não pode ser dispensada e hoje, a grande maioria dos médicos, não têm tempo nem de olhar para o paciente.


O título é mais que sugestivo, um livro organizado pelos doutores Álvaro Jorge Madeiro Leite, professor adjunto de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade do Ceará, e pelo médico geriatra João Macedo Coelho Filho, da mesma universidade.
Publicada pela Editora Saberes, de Campinas (SP) e prefaciada por Adib Jatene, grande cirurgião cardiovascular e ex-ministro da Saúde, a obra reúne ensaios de médicos, educadores, intelectuais, jornalistas, redigidos sob a forma de cartas para um jovem médico.

Fica claro que esta pergunta, que sugere incerteza, ansiedade, resulta também de uma certa frustração. E é uma questão crucial na prática da medicina em nossos dias e em nosso país. Uma prática que, em primeiríssimo lugar, chegou a um nível de excelência nunca sonhado na história da humanidade. Nunca a medicina curou tantos doentes, nunca salvou tantas vidas, nunca foi tão eficaz na prevenção. E, no entanto não são poucas as queixas em relação ao atendimento médico: basta ler jornais, basta escutar rádio ou assistir à TV para constatá-lo.

Grandes partes destas queixas resultam do alto custo dos cuidados médicos, nos quais o componente tecnológico é agora componente fundamental. Uma outra e importante razão é a desorganização dos serviços, tanto os públicos quanto os privados. Mas temos também um fator relacionado ao nosso atual estilo de vida moderno e que é mencionado em vários dos ensaios do livro. Um fator que gira em torno do verbo “ouvir”.

Já repararam como ficou difícil ser ouvido? A gente liga para um serviço qualquer e recebe de volta uma mensagem gravada, que nos remete para tal ou qual número, um processo que pode levar muito tempo e no qual não conseguimos falar com nenhum ser humano. A clássica explicação é a da falta de tempo, e isto atinge também a prática médica, com resultados negativos. Coisa paradoxal, porque todo estudante aprende, na faculdade, que o exame clínico começa por algo chamado anamnese, que é a narrativa, pelo paciente, do problema que o trouxe à consulta e de outros antecedentes que possam colaborar para o diagnóstico. Mais: a anamnese resulta num vínculo emocional que tem, por si só, valor terapêutico. Não são poucos os pacientes que afirmam se sentir melhor com a simples presença do médico.

Faz todo o sentido, portanto, a afirmação de Adib Jatene: “O médico não pode permitir que as máquinas o substituam. Não pode limitar o tempo da consulta, refugiar-se na solicitação de exames e encurtar a anamnese. Que a tecnologia não substitua o raciocínio clínico, que a eficiência não se contraponha ao afeto.” Palavras de um mestre, que os responsáveis por serviços médicos, públicos e privados deveriam considerar como diretriz básica; e, de outra parte, resposta mais do que adequada à pergunta que, na medicina, não quer calar, não deve calar: “Você pode me ouvir, doutor?”

Fonte: Editado por Taingred Gonçalves com bases no site:http://www.blogdocatarino.com/2010/10/dia-do-medico-voce-pode-me-ouvir-doutor.html#ixzz14ebt01Zu

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